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A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA
René Descartes nasceu em Haia em 1596. Trabalhava escassas
horas e lia pouco. A sua obra terá sido realizada em curtos períodos de elevada
concentração.
Das suas obras, realçamos aqui o Discurso do Método e as
Meditações Metafísicas, estudo que nos orientará, ainda que de forma pouco
organizada nas nossas especulações.
As Meditações Metafísicas (a respeito da filosofia
primeira nas quais a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o
corpo do homem são demonstráveis) constituem-se como verdadeira obra-prima,
que deve ser lida tal como se nos apresenta, já que o filósofo intentou
apoiar-se apenas em si próprio – sem pretensamente recorrer a influências
externas – para atingir a verdade.
Divide-se em seis meditações:
-
A primeira trata da dúvida;
-
A segunda conduz o filósofo à certeza do que é,
do que existe;
-
Pela terceira, demonstra a existência de Deus;
-
A quarta, demonstra como somos responsáveis
pelos nossos erros;
-
A quinta, demonstra também a existência de Deus
– argumento ontológico; e
-
A sexta trata da questão atinente aos objectos
exteriores.
É com Descartes
que se inicia em plenitude a Idade Moderna. Busca o conhecimento que
brota de si mesmo e das inúmeras experiências que o mundo lhe proporciona.
A investigação de
Descartes é dominada pelo próprio homem Descartes, tal como Montaigne já havia
feito. Há nele um verdadeiro procedimento autobiográfico. Não pretende
doutrinar o seu método de direcção da razão, mas apenas demonstrar como o fez.
O seu problema fundamental, prende-se com a recta razão, com a sabedoria de
vida. Mas, quer queiramos quer não, na sociedade humana existe o que podemos
denominar de unidade da razão, e o seu método de individual passa a ser geral.
A distinção entre o verdadeiro e o falso é igual em todos os homens, desde que
o bom senso impere nas suas mentes.
O seu método,
considerou fecundamente o processo matemático, devendo ter um espectro
universal e a sua aplicabilidade nos mais variados ramos do conhecimento.
Definiu-o como o conjunto de normas, que impossibilitam confundir falso e
verdadeiro, e são idóneas na condução do ser humano ao conhecimento possível – já
que nem tudo é objecto de conhecimento.
O Discurso do
Método estabelece quatro regras absolutamente essenciais:
- A evidência – para aceitarmos alguma coisa por
verdadeira, não podemos ter qualquer dúvida sobre a sua veracidade. À evidência
opõe-se a conjectura, que é no essencial, dúvida, mesmo que temporária. A
evidência é atingida por intermédio da intuição, aqui entendida como um
conceito da mente, que no estado de pureza e de atenção não é atingida por
qualquer dúvida objecto do pensamento;
- A análise
– as questões devem ser observadas no maior número de partes possível,
simplificando-as, para que a razão possa ter um entendimento mais perfeito;
- A síntese
– conduzir a investigação do mais simples para o mais complexo, é regra de
ouro;
- A enumeração
– o investigador deve realizar enumerações exaustivas e revisões gerais, de
molde a que tenha a convicção de nada ter omitido.
Descartes duvida
do conhecimento sensível – a dúvida é um conceito universal, neste particular.
Posso em boa verdade, de tudo duvidar. De Deus, dos astros, do meu próprio
corpo, mas não posso duvidar de que o meu pensamento – independentemente de
ter sido ou não induzido em erro – é um nada, tal como um nada é a coisa
que o pensa. Deste modo, a única proposição absolutamente verdadeira, é o
“penso, logo existo”. Eu existo, significa apenas que eu sou uma “coisa”
pensante – não posso, no entanto, afirmar que se trate de um corpo.
Deus visto como
infinito, eterno, criador, omnipotente e omnisciente, não pode ter sido
idealizado por um ser que não comunga de tal perfeição. A causa de ideia de um
Ser com tais atributos só pode ser fruto de um Ser idêntico e não do homem
Descartes, que considera que a simples presença na sua mente da ideia de Deus,
demonstra cabalmente a sua existência. Dele, temos uma ideia inata, como Ser
sumamente perfeito, um ser que existe por si, é uno, e é uma poderosa e
infinita fonte de existência. Esta ideia, é tal como a marca do artífice
realizada na sua obra.
Diz-se que o
conceito cartesiano de Deus, de religioso nada tem. Pascal acusa-o do seu Deus
nada ter a ver com o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, com o Deus do
cristianismo. Mas, o Deus de Descartes não será o Deus cristão? Ter-se-á
realmente o filósofo libertado dos seus condicionamentos, nomeadamente de uma
esmerada educação religiosa e das doutrinas expendidas pelos filósofos cristãos
que o precederam? – Temos dúvidas, assim como duvidamos à partida da nossa
capacidade de o fazer. Quer queiramos quer não, vivemos sobre “os ossos” dos
nossos antepassados.
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