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A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA
Fim de tarde.
Continuo a pensar, mas faço-o com alguma ligeireza. No meu espírito – e será
que este espírito é meu? – instalou-se a dúvida que já não é metódica, a
dúvida truculenta de cérebro atormentado.
Os pensamentos sucedem-se,
amontoam-se, precipitam-se. Há angústia, ansiedade, algum desespero e dúvida,
aqui e além aclarada por efémeras iluminações.
Se é o nosso Génio
que me engana, me ilude, não existirei enquanto vítima de ilusão?
Por muito iludido
que seja, poderei ser um nada, já que penso ser algo, mesmo não sabendo o quê e
contra vontade do dito Génio?
A questão na sua
essência, é a de que eu não sou na hipótese suposta um “ser” sujeito a ilusões,
mas uma ilusão, um efeito que procura reproduzir com fidelidade a impressão de
realidade; não uma realidade sujeita a ilusões que tendem a satisfazer a
omnipotência prazenteira do Génio. E, se este tudo pode, não necessita
para atingir os seus objectivos incognoscíveis de uma realidade estranha à sua
criação.
Mas, eu posso
dizer:
Eu não sei quem
sou, mas sou e assim existo;
Eu sou um ente
que pensa, que faz deduções, que julga distinguir o bem do mal, que faz
afirmações e negações, que rejeita e aceita, que imagina, que se ilude a si
mesmo e aos outros, que sente, que sofre psicológica e fisicamente.
Não sei quem sou,
mas existo porque penso, porque duvido.
Deste modo,
parece ser essencialmente pelo espírito que nos é dado o conhecimento. Poderá
assim afirmar-se que apenas o que nos é exterior pode – ou deve – ser
ilusão, não se incluindo nesta categoria o pensamento, mesmo que a razão esteja
sujeita a erros? Não nos parece. O resultado de tal especulação diminuiria
substancialmente os poderes do Génio, demitindo-o da fracção mais
consequente da sua obra: a criação do indíviduo-ilusão, ente complexo no
domínio bio-psico-social-ilusório. E não é enganado, seja por quem for, que
poderei afirmar que serei sempre uma qualquer coisa, desde que pense sê-lo. Eu
sou – hipoteticamente – uma ilusão que pensa, uma ilusão que duvida, uma
ilusão que sofre, que se angustia e deprime, uma ilusão sobre a qual recaem
inúmeros males. Eu sou uma ilusão e logo existo, pode ser verdade, mas caso
seja uma ilusão que existe enquanto ilusão-pensamento.
Por outro lado,
não seria menos verdadeiro – provavelmente até mais certo - do que o
“penso, logo existo”, o “sinto, logo existo”.
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