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A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA
Das especulações
antecedentes, podemos reter, ainda que de modo sumário, que podemos existir,
nomeadamente, enquanto:
-
realidades autónomas ou próprias,
fruto do acaso;
-
realidades que apenas o são,
conquanto integradas numa Realidade Única;
-
realidades criadas pelo desígnio de
um Génio do Bem;
-
realidades criadas pelo desígnio de
um Génio do Mal;
-
ilusão gerada por um Génio do
Mal ou por um Génio da Indiferença, alheio aos males do mundo e da sua
criação.
O mesmo se poderá
dizer do Universo – ou Multiverso – e dos entes que o compõem.
A questão que por
ora irá assoberbar o nosso espírito, prende-se com a eventual existência do Génio
– a quem historicamente denominamos Deus – e da sua natureza.
Na indagação da realidade do Génio, vão desfilando
na história da filosofia e das religiões os mais díspares conceitos, que se
arrastam desde os primórdios da humanidade. Génio que é uma entidade
suprema, identificada com uma existência absoluta, substância eterna, infinita,
permanente, que se satisfaz a si mesma, subsistindo por si, omnisciente,
toda-poderosa, que cria e é livre no acto da criação, e pela qual tudo o que
existe é consequência dessa criação. Este o Génio do Bem, Génio
de um grande número de filósofos, em que a própria ideia de bondade e acerto
lhe é inerente por natureza. Filósofos que por intermédio das suas cogitações
são exímios na criação e no homicídio de Génios.
Para uns, o
resultado de um julgamento espontâneo da razão, uma ideia inata, uma pura
intuição intelectual, a ideia do poder unificador da razão humana, enquanto que
para outros, um fantasma da imaginação ou o fracasso de um sem número de seres
pensantes atormentados por uma irremediável angústia existencial.
Poderá este deus (Génio)
dos filósofos, ser também o deus de uma determinada religião? O deus dos
filósofos é o deus da razão, da aritmética, da geometria, dos que reduzem a
vida aos argumentos e demonstrações racionais, sendo um deus de infelizes
fracassados. Um deus dos fracassos e dos fracassados não pode obviamente ser
religioso, palavra que empregamos no seu verdadeiro e mais rigoroso
significado.
Poderemos afirmar que o Génio do Bem existe?
Suponhamos que eu sou uma substância finita e que a ideia
desta está em mim. Só pelo facto de ter também na minha mente a ideia de uma
substância infinita, isto consigna que a mesma me foi comunicada por ela
própria? Ou seja, se considero a possibilidade de existência de uma substancia
infinita – infinito concebido pela negação do que é finito -, é por ter
desta obtido o seu conhecimento? E haverá mais realidade na substância infinita
do que na finita, tendo por isso, primeiramente a noção daquela, isto é a do Génio
do que de mim próprio?
Supondo a minha existência real, existindo em mim a ideia
de um ser-de-perfeição, tal bastará para demonstrar a existência do Génio,
já que se por um lado nem algo pode provir do nada, nem o mais perfeito pode
derivar do menos perfeito?
Se assim for, também nada obsta a que demonstre a
existência de um Génio do Mal.
Supondo-me novamente como ente real, finito e possuidor da
ideia de uma substância infinita, qualitativamente mais real do que a finita,
considerando uma mundividência estruturada em factos – reais ou ilusórios
-, tudo aponta no sentido da existência de um ser mais perfeito do que o mundo,
mas mesmo assim, menos perfeito do que o meu pensamento pode conceber, eu, que
sou a imperfeição das imperfeições.
A tudo acresce, que a actividade do cérebro padece das
mesmas limitações deste: as do espaço e do tempo. Ora, o que é limitado não tem
acesso ao ilimitado: à eternidade e à infinitude. O conhecido não pode atingir
o desconhecido e quando o pensa ter atingido, tem por instrumento ilusório a
imaginação, como faculdade de representar no espírito objectos ausentes ou
incognoscíveis.
Sem expender novos argumentos – ver infra, VIII -,
teremos de ajuizar, elegendo da eventual existência da natureza do Génio,
a sua qualificação – boa ou má, evitando a eterna discussão sobre a
natureza do Bem e do Mal, compreendendo definitivamente se cabe naquilo que ele
é, a produção de ilusões.
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